‘A festa de um homem só’ apresenta a literatura chinesa aos brasileiros

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‘A festa de um homem só’ está ocupando cada vez mais espaço na cena literária brasileira, especialmente nos clubes de leitura dedicados a obras chinesas. Apesar de seu lançamento modesto em 2020, pela Editora Jaguatirica, o livro caiu nas graças dos brasileiros este ano e vem sendo divulgado entre os interessados pela literatura da China.

O livro de Lao Ma traz uma série de histórias curtas que capturam o cotidiano da China, em um estilo que mescla o humor e o absurdo de situações vividas pelo autor. Apesar dos paralelos que podem ser feitos entre a realidade chinesa e a brasileira, ‘A festa de um homem só’ representa uma aproximação recente entre os leitores de língua portuguesa e o país de Lao Ma.

De conto em conto, o autor nos apresenta uma China triste, bela e por vezes engraçada. Exemplos de temas abordados são a corrupção e o funcionalismo público, a convivência entre vizinhos, a relação entre amigos, um ônibus lotado no fim do dia, e a lembrança melancólica do passado.

A festa de um homem só‘ não é apenas uma lição sobre a China moderna, mas também uma obra-prima literária, reunindo cinco dos livros mais célebres de Lao Ma. Devido a este sucesso, o livro é o primeiro trabalho do autor a ser traduzido para o português brasileiro.

Sua chegada ao Brasil ocorreu graças a acordos internacionais realizados na 4ª Conferência Internacional de Cooperação à Publicação e Imprensa. Os direitos de publicação foram adquiridos pela editora Jaguatirica, representada por Paula Cajaty.  

“A China tem parcerias de negócios fortíssimas com o Brasil e a presença de brasileiros só aumenta nas principais cidades chinesas. Esta tendência consolida também uma troca cultural, o despertar do interesse do leitor médio chinês por narrativas estrangeiras”, disse Cajaty à Ibrachina.

‘A festa de um homem só’ reúne os maiores sucessos de Lao Ma

Lao Ma (劳马) é o pseudônimo de Ma Junjie (马俊杰), conhecido na China como pai do microconto. O autor foi professor de literatura na Universidade de Renmin da China e hoje trabalha como vice-secretário de Educação e membro do Comitê Central da Associação Chinesa de Escritores.

Lao Ma iniciou sua carreira literária ainda na década de noventa e teve centenas de textos publicados, entre novelas, contos e ensaios. Suas obras foram traduzidas ao coreano, japonês, vietnamita, mongol, hindi, inglês, francês e espanhol, entre outros. É o primeiro livro de Lao Ma traduzido para o português — direto do chinês — por Caio Yurgel, professor da universidade chinesa Duke Kunshan. 

Em entrevista ao Ibrachina, o tradutor afirma que

“a escrita do Lao Ma é em igual medida curta e irônica, uma ironia que tem um pé na quase infinita história do país, e outro nas acachapantes mudanças pelas quais a China vêm passando desde os anos oitenta. O vão entre gerações é brutal. Hoje em dia, pais e filhos têm experiências completamente distintas do que seja a “China”.”

Segundo Yurgel, esta seria a origem do estilo irônico do autor, pois a ironia seria a distância entre o que está sendo dito e a realidade.

“O grande desafio da tradução foi conseguir manter essa ironia, esse humor negro que percorre os contos e que tem algo de Kafka (rir diante do absurdo da vida moderna), e, ao mesmo tempo, respeitar os momentos de seriedade em que se está confrontando passagens da história e do sistema político atual”, completou o tradutor.

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