Mario Vargas Llosa se recupera de Covid em hospital de Madrid; veja 4 obras essenciais do vencedor do Nobel

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O autor peruano Mario Vargas Llosa saiu nesta quarta-feira (4/7) da área de isolamento do Hospital Ruber Internacional, em Madrid, onde está internado por conta de uma infecção por Covid-19. O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura foi internado no sábado, 1° de julho, anunciou seu filho Álvaro Vargas Llosa no Twitter.

Esta já é a segunda vez que o autor é internado por complicações do Covid, o que causa preocupação na comunidade literária internacional, devido à idade avançada de Vargas Llosa.

Mario Vargas Llosa nasceu em 28 de março de 1936 na cidade de Arequipa, no Peru, e é um reconhecido romancista, jornalista, ensaísta e ex-político. Llosa também possui cidadania espanhola e da República Dominicana.

Vargas Llosa é um dos romancistas e ensaístas mais importantes da América Latina e fez parte do chamado Boom latino americano, que lançou ao estrelado literário autores como Gabriel García Marquez, Jorge Luís Borges, Júlio Cortázar e Carlos Fuentes.

Este período mudaria para sempre a forma como o mundo enxerga a literatura da América Latina, como explica a Dra. Marina Leivas Waquil, pós-doutoranda no Programa de Letras Estrangeiras e Tradução (LETRA) da USP:

Denominação sem autoria conhecida, o boom latino-americano foi um fenômeno surgido na década de sessenta que abalou as estruturas da literatura mundial e que repercute até hoje. Suas consequências podem ser vistas em diversos âmbitos: atingiu, além da literatura propriamente dita, as artes em geral, áreas como a tradução, a política, e as sociedades como um todo.

Marina Leivas Waquil no artigo O boom latino-americano: recepção e tradução

Alguns estudiosos deste período debatem qual seria a obra que iniciou o boom latino-americano, e há um certo desacordo em relação a qual pode ser considerada a primeira obra do período. Donald L. Shaw, em artigo publicado em 1994, defenda a tese que La ciudad y los perros, de Vargas Llosa, seria o livro fundador do movimento.

A obra vencedora do prêmio Biblioteca Breve em 1962 foi editada no Brasil em 2013 pela Alfaguara com o título A cidade e os cachorros e marca o início da carreira literário de Mario Vargas Llosa. Desde então, ele publicou diversas obras de ficção e não-ficção, e venceu inúmeros prêmios.

Em 2010, ele foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, “por sua cartografia das estruturas de poder e suas imagens contundentes da resistência, revolta e derrota do indivíduo” expressas na obra A Festa do Bode, publicado em espanhol em 2010.

Vargas Llosa se tornou cidadão espanhol em 1993 e recebeu o Prêmio Cervantes no ano seguinte, estabelecendo residência em Madrid, onde vive até hoje. Apesar de sua nova nacionalidade, continuou a escrever sobre o Peru.

Principais obras de Mario Vargas Llosa: 4 livros essenciais

A obra do vencedor do Nobel é extensa e se mistura com sua carreira como jornalista, professor e político. Quem não sabe por onde começar a ler Mario Vargas Llosa pode escolher uma das quatro obras essenciais abaixo.

A Cidade e os Cachorros (2013, Editora Alfaguara)

O primeiro romance de Vargas Llosa, intitulado “A Cidade e os Cachorros”, se passa em uma academia militar no Peru chamada Academia Leoncio Prado, onde o próprio autor estudou. Sua publicação causou uma grande comoção, levando as autoridades da academia a queimarem mil cópias do livro em protesto. A história aborda os códigos do exército e a rígida hierarquia militar, narrando a luta de um grupo de jovens cadetes para sobreviver em um ambiente marcado por bullying e violência, culminando no assassinato de um dos colegas. Posteriormente, o livro foi adaptado para o cinema pelo diretor peruano Francisco Lombardi.

Tia Julia e o Escrevinhador (2007, Editora Alfaguara)

Esta obra cômica se passa na Lima dos anos 1950 e conta a história de Marito, um estudante e aspirante a escritor, que se apaixona pela cunhada de seu tio, que é 13 anos mais velha do que ele. Marito também faz amizade com um roteirista boliviano cheio de manias, responsável por criar novelas diariamente para uma estação de rádio local. A trama tem como inspiração o primeiro casamento de Vargas Llosa, aos 19 anos, com Julia Urquidi, que na época tinha 32 anos e era de fato sua tia por casamento. No entanto, Urquidi apresentou uma versão bastante diferente desse relacionamento com Vargas Llosa em suas memórias intituladas “Lo que Varguitas no dijo“.

A Guerra do Fim do Mundo (2008, Editora Alfaguara)

Considerado uma obra-prima trágica, este romance foi inspirado na história real de Antônio Conselheiro, o profeta brasileiro. Os eventos reais que inspiram a obra aconteceram na Bahia, no final do século XIX. Em um período de declínio econômico após o colapso do Império do Brasil, os mais pobres são atraídos pelo pregador carismático, que profetiza o fim do mundo. Condenado pela igreja, Conselheiro lidera seu grupo improvisado de seguidores na construção de uma cidade em Canudos, que se torna uma utopia desafiadora ao governo nacional, resultando em um conflito violento quando o exército é enviado para controlar o profeta.

A Festa do Bode (2013, Editora Alfaguara)

Este romance retrata a tirania política por meio da história do ditador Rafael Trujillo, conhecido como “o Bode”, cujo governo opressivo na República Dominicana durou de 1930 até seu assassinato em 1961. O livro segue os últimos dias do Generalíssimo em seu leito de morte, enquanto seus assassinos se aproximam, revelando-o como um personagem grotesco cujo corpo debilitado não o impede de exibir seu machismo exacerbado. Uma narrativa paralela explora o impacto humano do regime maléfico de Trujillo por meio da história de uma mulher traída na infância por seu pai, entregue à depravação sexual do ditador. O romance evidencia como os danos causados pela ditadura persistem mesmo após a morte do ditador, à medida que os efeitos do antigo regime perduram.

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