Pagu será a homenageada da Flip 2023 e dará o tom do evento

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As curadoras da edição da Feira Literária de Paraty (Flip) de 2023 anunciaram na última sexta-feira (30/7) que a homenageada deste ano será Pagu, a musa dos modernistas. Fernanda Bastos e Milena Britto, que dividem a curadoria da 21ª edição da Flip, publicaram um manifesto apresentando a homenageada, onde escrevem:

“Muitas são as paisagens de dentro e de fora que ela nos mostra com suas múltiplas linguagens, todas trazendo em comum uma contestação incansável diante do mundo rígido.”

Todos os anos os curadores da principal feira literária do Brasil escolhem um autor ou diversos autores para serem homenageados na edição atual. A escolha, além de importante para o evento, tende a ser uma escolha política que representa as bandeiras defendidas pela organização da Flip.

Em entrevista à imprensa, Fernanda Bastos disse desejar que “a homenagem possa sinalizar para um espaço de esperança, indicar um Brasil que a gente quer construir”.

Coincidentemente, o anúncio foi feio no mesmo dia em que o ministro Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), votou pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro por oito anos, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante as eleições presidenciais de 2022.

Dessa forma, como escreveu o Quatro Cinco Um, a homenagem da Flip à Pagu foi anunciada em um momento que coincide com uma decisão do TSE alinhada aos ideais de esquerda defendidos pela escritora.

Como é possível notar pelos homenageados anteriormente pela Flip, como o tributo aos Indígenas vítimas da Covid-19, na edição de 2021, o evento tende a dar destaque àqueles que fazem parte ou defendem os grupos desfavorecidos. E Pagu cabe exatamente nesta descrição.

Pagu, “mais macho que muito homem”

Pagu nasceu Patrícia Rehder Galvão em 1910, em São João da Boa Vista/SP e é reconhecida como uma das figuras mais importantes do modernismo brasileiro, levando uma vida intensa e dedicada à luta pelos direitos das mulheres e à expressão artística. Como escreveram Rita Lee e Zélia Duncan na música entitulada Pagu, foi “mais macho que muito homem”.

Pagu despontou como escritora ao publicar os romances revolucionários “Parque Industrial” (1933) e “A Famosa Revista” (1945), este último em colaboração com Geraldo Ferraz. “Parque Industrial”, lançado sob o pseudônimo de Mara Lobo, é considerado o primeiro romance proletário brasileiro. O livro alcançou reconhecimento internacional, sendo traduzido para o inglês e publicado nos Estados Unidos em 1994, e para o francês, com edição crítica de Antoine Chareyre, em 2015.

Além de sua incursão na literatura, Pagu também escreveu contos policiais, adotando o pseudônimo de King Shelter. Essas histórias foram inicialmente publicadas na revista pulp “Detective”, dirigida por Nelson Rodrigues e editada pelos Diários Associados. Mais tarde, esses contos foram reunidos no livro “Safra Macabra” (1998), publicado pela Livraria José Olympio Editora.

Pagu também teve uma relevante atuação no campo teatral, revelando e traduzindo grandes autores até então desconhecidos no Brasil, como James Joyce, Eugène Ionesco, Fernando Arrabal e Octavio Paz. Ela colaborou com diversos grupos teatrais e deixou sua marca na cena cultural brasileira.

Além de sua produção literária, Pagu também se destacou como uma militante feminista e comunista. Ela lutou por direitos igualitários e foi presa várias vezes por suas atividades políticas. Sua vida foi marcada por um espírito contestador e pela busca incessante pela liberdade e justiça.

Pagu faleceu em 1962, aos 52 anos, deixando um legado significativo na literatura e no ativismo político brasileiro. Sua contribuição como escritora e defensora dos direitos das mulheres e dos oprimidos continua a inspirar gerações subsequentes.

Como escreveram as curadoras no manifesto anunciando que Pagu será a homenageada da Flip:

Profundamente múltipla e engajada, sua obra e sua figura política têm sido abraçadas por grupos sociais que apontam no trabalho da autora um símbolo da luta contra as desigualdades e a estigmatização – em especial das mulheres e das feministas, que percebem na figura de Pagu um emblema da força feminina.

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